Assistentes sociais fizeram história e participaram dos testes para a elaboração da vacina Coronavac

Muitas (os) assistentes sociais paranaenses já têm recebido as doses das vacinas e estarão protegidas (os) para atuar na linha de frente de combate à covid-19 em hospitais e instituições de saúde pelo estado. Mas algumas (alguns) delas (deles) também participaram das fases de testes da Coronavac, vacina elaborada pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. O Hospital de Clínicas (HC), da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi uma das 12 instituições parceiras na realização dos testes no Brasil. Ao todo, 1.400 profissionais foram voluntários nos testes que foram realizados de agosto a outubro. A equipe de serviço social da instituição também esteve presente.

Com a aprovação para o uso emergencial da Coronavac por parte da Anvisa em 17 de janeiro e a chegada de doses da vacina ao Paraná, as (os) voluntárias (os) da pesquisa tiveram a oportunidade de saber se tomaram as doses da vacina ou os placebos a partir de 21 de janeiro.

Confira abaixo mais detalhes e relatos sobre a experiência de quatro assistentes sociais que passaram pela fase de testes e deixaram a sua contribuição para a ciência e para a valorização da vida.

Solange Gezielle dos Santos Coning foi uma das primeiras a participar dos testes da Coronavac

A assistente social Solange Gezielle dos Santos Coning atua há 16 anos no Complexo Hospital de Clínicas da UFPR/EBSERH e participou como voluntária do Ensaio Clínico Fase III duplo-cego para a Avaliação de Eficácia e Segurança em profissionais de saúde da vacina adsorvida covid-19 (inativada), a Coronavac.

Ela explica que, após a assinatura de um termo de consentimento, começaram os estudos. “Ele consiste em coletas de amostras clínicas, triagem médica e laboratorial de cada participante e duas doses da vacina (vacina teste ou placebo) em um intervalo de 14 dias. Como é um duplo cego, ninguém sabe se está tomando a dose ou o placebo.”

Ao longo do processo, ela teve que preencher diários com anotações sobre os sinais vitais, temperatura, sintomas existentes e a medicação utilizada. Tudo deve ser informado para a equipe de pesquisa. O estudo tem, ao todo, duração de 12 meses.

“Eu tomei as duas doses e não tive nenhum sintoma ou reação. Sempre brincava com minhas colegas no hospital, que com certeza tinha tomado placebo. Preenchi os diários e cuidei para cumprir todas as recomendações da equipe de pesquisa. Durante toda a pandemia continuei atendendo as famílias da UTI Pedriátrica Covid e Enfermaria Respiratória Pediátrica Covid do hospital”, afirma.

No dia 20 de janeiro, o Instituto Butantan e as universidades parceiras puderam quebrar o cegamento do estudo e informar quais voluntários tomaram o placebo ou a vacina. Solange foi informada que havia tomado as duas doses da vacina e comemorou o resultado.

“A possibilidade de participar como voluntária, contribuir para a ciência e para a produção de conhecimento é memorável. Fui a primeira voluntária da minha equipe de Serviço Social a participar do estudo, desde o primeiro momento acreditei na seriedade, competência e significado que esse ensaio clínico tinha para a população. Meu coração está cheio de esperança por dias melhores”, celebra.

Eliseana Aparecida Padilha recebeu o placebo durante os testes em setembro

A assistente social do HC, Eliseana Aparecida Padilha, se inscreveu em agosto e participou dos testes em setembro. Ela conta que assinou todos os termos, apresentou as documentações necessárias, tomou as vacinas e passou pelos processos de registro diário de sintomas da vacina, incluindo visitas mensais aos centros de pesquisa. Após a quebra de cegamento do estudo, ela foi informada de que havia tomado doses do placebo. No mesmo dia, 22 de janeiro, ela tomou a primeira dose da Coronavac. “Recebi a primeira dose, o que me deixou muito feliz. Nós vivemos durante todo esse período momentos de muita atenção e stress, principalmente com o medo de trazer o vírus para casa e transmitir para os familiares. Esperamos que todo profissional de saúde e todo cidadão brasileiro tenha seu direito garantido à vacina. Quero dar muitos vivas à ciência e aos profissionais do HC que estiveram envolvidos nesse estudo e em um curto espaço de tempo conseguiram desenvolver a vacina”, celebra a profissional.

Rosilda de Paula Brozosky está na linha de frente de dois hospitais em Curitiba

Já a assistente social Rosilda de Paula Brozosky atua não apenas no Hospital das Clínicas como também no Hospital Victor Ferreira do Amaral, em Curitiba. Após ter participado do primeiro teste da vacina, ela ficou em observação durante uma hora para acompanhamento e, entre a primeira e a segunda dose respondia a um questionário com 24 perguntas diariamente sobre os sintomas que sentia. Rosilda ressaltou que a equipe médica também estava monitorando a saúde dos pacientes constantemente e estava sempre à disposição para ajudar. Ela também foi informada que tomou o placebo e, no dia 22 de janeiro, recebeu a primeira dose da vacina. A segunda será aplicada na sexta-feira, dia 12 de fevereiro. Ela falou um pouco sobre o alívio em estar vacinada e sobre a importância da imunização para o combate ao coronavírus.

“Meu sentimento foi de felicidade e de esperança de que em breve a vacina chegue para todos. Estou na linha de frente de dois hospitais públicos que recebem pacientes contaminados ou com suspeitas de covid. Acompanho diariamente as rotinas dos pacientes e suas famílias. São momentos angustiantes, incertos e muito sofridos para eles e para toda a equipe que presta assistência. Acompanhar mortes de pacientes, alguns tão jovens, são momentos devastadores. A vacina é a nossa esperança para evitar novas perdas e foi uma grande satisfação poder colaborar um pouquinho com a pesquisa da vacina. Todos os voluntários têm esse sentimento. Também fiz questão de passar essa mensagem aos meus filhos: acreditem na ciência e estejam sempre dispostos a colaborar para o bem da sociedade”, destaca.

Maristela de Moraes foi uma das voluntárias da fase de testes

A assistente social do HC no setor de transplantes de medula óssea, Maristela de Moraes, também participou dos testes. Além das demais etapas do protocolo, ela acrescentou que realizou regularmente os exames para a detecção da covid-19 e para a coleta de sangue e que o monitoramento segue sendo realizado. Ela também recebeu o placebo e tomou a vacina em janeiro. Sua segunda dose será no dia 19 de fevereiro. “Nossa vontade é que essa angústia acabe logo. É muito difícil ver as dores dos familiares e comunicar a notícia de um óbito. Saber que essa família não vai poder abraçar a pessoa e poderá chegar perto no máximo para o reconhecimento do corpo é algo muito sofrido. Não vejo a hora que isso acabe. Minha participação como voluntária faz parte da minha vontade de fazer parte da minha vontade de colaborar para a elaboração de uma vacina que será tão importante para toda a nossa sociedade. Apesar das dificuldades, vai chegar o momento em que todos estarão vacinados”, afirma ela. 

Os cuidados continuam

A população está começando a tomar a primeira dose das vacinas da Sinovac e do Instituto Butantan e da universidade de Oxford/AstraZeneca com a Fundação Oswaldo Cruz, mas é importante salientar que apenas ela não garante a imunização completa. Segundo os estudos da vacina de Oxford e AstraZeneca, a proteção total é conferida 15 dias após a aplicação da segunda dose.

Dessa maneira, o CRESS-PR ressalta que os cuidados contra o coronavírus devem continuar. Evitar aglomerações, usar máscara e álcool gel e realizar o distanciamento social são medidas que devem ser mantidas também como uma forma de proteger pessoas que ainda não tem previsão para tomar a vacina. Além disso, ainda estão em andamento estudos sobre a imunização em relação às novas variantes e em relação ao tempo de imunização. Esse não é o momento para relaxar nos cuidados contra o vírus. Proteja você e sua família.